segunda-feira, 22 de março de 2010

Aventura sem limites

Revista turismo e companhia


No dia 19 de novembro último, o Paralamas do Sucesso abrilhantou a Festa da Publicidade, em Franca. Um público de mais de três mil pessoas prestigiou o evento e foi ao delírio com o vocalista do grupo, Hebert Viana. No palco, em sua adeira de rodas, o músico era pura energia. Embora famoso e adorado por uma legião de fãs, Hebert Viana enfrenta os mesmos problemas que os demais portadores de deficiência física sofrem. ‘‘ Os hotéis de Franca não possuem instalações especiais para receber os PNEs (Portadores de Necessidades Especiais) e esse não é um caso isolado’’, disse Fernando Oliveira, gerente de marketing da Calçados
Democrata, co-patrocinadora do evento.
Oliveira que acompanhou a maratona para transportar o artista, afirma que é difícil conscientizar empresários da indústria do turismo sobre a necessidade de adaptar seus estabelecimentos, destinos e atividades para poder receber esse turista especial. ‘‘Hotéis e pousadas precisam passar por pequenas reformas. Degraus e portas estreitas nos quartos e banheiros ainda são grandes obstáculos’’, observa.
No Brasil, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), há cerca de 24 milhões de deficientes físicos. Não há dados sobre o perfil sócio-econômico dessas pessoas, nem estudos comportamentais, mas uma coisa é certa: essa população existe, não gosta de ficar parada e responde positivamente a tudo que lhes é oferecido como entretenimento ou maior facilidade de acesso.
Ainda que timidamente, algumas agências de ecoturismo e esportes radicais estão despertando para atender esse filão de mercado, na região de Franca. É o caso da operadora de ecoturismo Mata Virgem, de Altinópolis/SP. “A demanda ainda é pequena, pois existe uma certa restrição ou medo por parte dos portadores”, afirma Carlos Eduardo Ferreira, instrutor há 10 anos e sócioproprietário da empresa.
Um dos principais divulgadores do turismo de aventura para deficientes físicos no Brasil é Dadá Moreira, 38 anos, advogado, jornalista e fotógrafo profissional. Fanático por esportes, há oito anos começou a perceber que sua condição física não era mais a mesma. Foi perdendo o equilíbrio, a coordenação motora e a fala ficaram prejudicadas. Por fim, ele descobriu que tinha ataxia espinocerebelar, uma doença genética degenerativa. Após quatro anos de prostração, Dadá tomou uma atitude radical: decidiu fazer rafting. Das corredeiras partiu para o salto de pára-quedas e, em seguida, fez escalada. Nunca mais parou de praticar esportes de aventura. Em parceria com outros colegas, criou a ONG Aventura Especial (www.aventuraespecial.com.br) e hoje dá dicas sobre lugares adaptados para receber pessoas que precisam de atenção diferenciada.
Para permitir a prática pelos novos atletas, as modalidades radicais sofrem pequenas adaptações: roldanas para içar o praticante de rapel, companhia de instrutor durante caminhadas e nos saltos de pára-quedas, assento especial no meio da bóia no rafting. “Cada tipo de problema exige um ajuste diferente. Mexe-se pouco nos instrumentos, é mais a ajuda humana que se faz necessária”, explica Dadá. O que é certo é que os portadores de necessidades especiais são dinâmicos, estão prontos para enfrentar desafios e superar barreiras. Contam, evidentemente, com a iniciativa da comunidade para orientar e apoiar cada projeto. Quem sabe em futuro próximo tudo que parece dificuldade hoje, estará superado.

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